Ser forte, bem desenvolvida e com uma boa escrita não é exclusividade de personagens masculinos. Veja as melhores protagonista feminina de jogos dos últimos tempos
Protagonistas femininas bem construídas sempre existiram nos games, mas durante muito tempo, elas ficaram em segundo plano ou eram moldadas pra agradar um tipo específico de público. Só nos últimos anos é que começaram a aparecer em maior número personagens com histórias próprias, personalidade sólida e espaço narrativo que vai além de ser só “a mulher do jogo”, como por exemplo, Aloy de Horizon Zero Down e Forbidden West, a nova Lara Croft, Ellie de The Last of Us ou, por quê não, A Bayonetta!

Mas não basta colocar uma personagem feminina no centro da trama e achar que isso resolve tudo. O que faz a diferença mesmo é quando ela é bem escrita — quando suas decisões, falas, ações e até falhas fazem sentido no contexto da história. Não se trata de perfeição, mas de coerência. E alguns jogos fizeram isso muito bem.
Abaixo, a gente separou algumas protagonistas que realmente valem a pena comentar. Seja por causa do enredo, da forma como o jogador se conecta com elas ou pela maneira como foram apresentadas, todas mostram que é possível fazer uma personagem feminina forte sem precisar repetir fórmula e, se você ficar com dúvidas, deixe um comentário.
Melhores Protagonista Feminina de Games
The Last of Us Part II – Ellie
A Ellie já era uma personagem forte no primeiro jogo, mesmo sendo coadjuvante. Mas é em The Last of Us Part II (site oficial) que ela se torna o centro de tudo. E o mais interessante é que o jogo não tenta fazer dela uma heroína tradicional. Pelo contrário: ela comete erros, toma decisões questionáveis e carrega traumas que pesam o tempo todo.

A narrativa da parte 2 é desconfortável em vários momentos porque obriga o jogador a seguir com ela mesmo quando não concorda com suas ações. Isso humaniza a personagem e faz com que a escrita dela se destaque. A forma como ela lida com perda, raiva, culpa e sobrevivência é realista dentro do contexto brutal daquele mundo. E o fato de ela não ser “perfeita” nem sempre torna a experiência mais fácil, mas definitivamente mais intensa.
Horizon Zero Dawn e Forbidden West – Aloy
A Aloy é uma das protagonistas mais icônicas da geração recente, e isso se deve a vários fatores: seu papel como caçadora em um mundo pós-apocalíptico, sua origem misteriosa e, principalmente, a forma como ela se impõe mesmo quando todo o mundo ao redor a subestima. Desde Horizon Zero Dawn (site oficial), ela é escrita como uma personagem prática, observadora e racional — não porque precisa “ser fria” pra ser levada a sério, mas porque essa é a forma como ela aprendeu a sobreviver.

Ao longo dos dois jogos, ela vai mudando aos poucos: se abrindo mais, se aproximando de aliados e aprendendo a lidar com a própria importância dentro daquele mundo. O legal é que o jogo nunca força ela a mudar quem é pra agradar ninguém. A escrita dela acompanha o amadurecimento da história.
Hellblade: Senua’s Sacrifice – Senua
Poucos jogos trabalham saúde mental com tanta força quanto Hellblade: Senua’s Sacrifice (site oficial), e grande parte disso vem da forma como a Senua foi construída. Ela não é uma guerreira imbatível, nem uma heroína no sentido tradicional. É uma personagem que sofre de psicose, ouve vozes o tempo inteiro e precisa lidar com a dor da perda enquanto enfrenta um mundo que mistura realidade e delírio. A escrita da Senua é delicada, mas firme.

Ela é vulnerável, mas também corajosa. O jogo mergulha na mente dela, e a gente sente as coisas do ponto de vista dela o tempo todo. A sensação de confusão, medo, desespero e esperança é constante. Não tem como jogar e sair ileso. É uma experiência pesada, mas memorável justamente porque a Senua é escrita com muito cuidado e profundidade.
Life is Strange – Max Caulfield
Em Life is Strange (site oficial), a protagonista Max é uma adolescente comum que ganha a habilidade de voltar no tempo. O que parece ser só um recurso de gameplay logo vira um elemento emocional bem importante. A Max não é uma personagem superconfiante, nem o tipo de protagonista que resolve tudo sozinha. Ela é introspectiva, insegura, observadora e tem um olhar curioso pro mundo. E é exatamente isso que a torna tão crível.

As decisões que o jogador toma com ela moldam a história, mas mesmo assim a essência da personagem continua ali: alguém que está tentando entender o que fazer com o que sente e com o que vive. A amizade com a Chloe, o envolvimento com os acontecimentos da escola e o peso das escolhas fazem dela uma protagonista bem escrita, com falas e reações que combinam com sua idade e personalidade.
Tomb Raider (2013) – Lara Croft
A Lara Croft sempre foi um ícone dos videogames, mas na fase clássica, sua imagem era muito mais visual do que narrativa. Já no reboot de 2013, a personagem ganhou uma abordagem mais humana. Nessa nova versão, a Lara é mostrada no começo da sua jornada, lidando com medo, dor e decisões difíceis.

A escrita dela é centrada na transformação: de uma arqueóloga assustada em sobrevivente determinada. E o melhor é que o jogo não tenta justificar isso com uma grande redenção mágica ou clichê — é tudo gradual, com base nas situações que ela enfrenta. Ela continua inteligente, forte e corajosa, mas também é vulnerável. E essa vulnerabilidade dá espaço pra construção de uma personagem com mais nuances. O jogo acerta muito ao mostrar como ela se forma, em vez de já apresentá-la pronta.
Bayonetta – Bayonetta
A Bayonetta (site oficial) é o oposto da vulnerabilidade. Ela é exagerada, confiante, debochada e cheia de estilo. Mas mesmo nesse exagero, a escrita dela tem consistência. Ela sabe o que está fazendo o tempo todo, tem controle da situação e lida com os eventos ao redor com uma mistura de sarcasmo e inteligência que fazem dela mais do que só uma personagem “estilosa”.

O que torna a Bayonetta interessante é que, apesar do visual provocante e do combate cheio de acrobacias, ela não está ali como objeto. Ela é o centro da ação, com identidade própria. E mesmo que o jogo seja insano no ritmo e no tom, a personagem consegue se sustentar dentro dessa proposta. Pode não ser uma escrita emocional ou profunda como em outros exemplos, mas é coerente, marcante e funcional dentro do que o jogo propõe.
Control – Jesse Faden
Control (site oficial) é um daqueles jogos que se destacam pelo clima e pelo mistério. E a protagonista Jesse combina perfeitamente com isso. Desde o começo, ela não sabe exatamente onde está se metendo, mas mantém uma postura firme. O texto dela é cheio de monólogos internos, o que permite ao jogador entender como ela pensa, o que sente e o que está tentando esconder.

A escrita da Jesse tem um tom mais contido, mas ainda assim revela bastante coisa sobre ela ao longo do tempo. O interessante é que ela nunca é apresentada como salvadora ou heroína clássica. Ela é alguém que caiu numa situação absurda e precisa lidar com isso do jeito que dá. O jogo acerta ao mostrar o processo dela se adaptando à função de diretora do FBC sem forçar um arco de superação artificial.
A Plague Tale – Amicia de Rune
A Amicia é protagonista de A Plague Tale: Innocence (site oficial) e sua continuação, Requiem. E o que torna a personagem tão bem escrita é o peso da responsabilidade que ela carrega. Não por ser escolhida por um grande destino, mas porque precisa cuidar do irmão em meio a uma crise desesperadora — praga, perseguição, mortes.

Ela começa como uma jovem rica que não sabe o que está acontecendo no mundo real, e aos poucos vira alguém que precisa lutar, fugir e fazer escolhas difíceis. A escrita dela mostra claramente essa transição, mas sem romantizar. Ela sofre, falha, se desespera, mas continua. Não tem como jogar e não se importar com ela. E o relacionamento com o irmão Hugo é o coração da história, dando ainda mais profundidade às ações dela.
Mais do que representação
Essas protagonistas mostram que a boa escrita de um personagem não depende só de diálogos fortes ou de um bom dublador. Depende de contexto, desenvolvimento, consistência e propósito. Cada uma tem seu próprio tipo de força: algumas são frágeis e crescem, outras já começam confiantes, mas revelam complexidade aos poucos.
O importante é que todas têm motivações claras, reagem ao mundo ao redor de forma coerente e sustentam o papel de protagonistas com consistência. Dá pra fazer personagem feminina marcante sem forçar arquétipo, sem cair em exagero e sem reduzir a identidade dela ao gênero. Quando a narrativa entende isso, o resultado aparece — e o jogador percebe.
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