O filme chega aos cinemas e traz a cantora Lady Gaga para um papel importante e justificar o Delírio a Dois do título
A Warner tinha um plano de fazer um mundo compartilhado de super-heróis como a Marvel vinha fazendo por anos, mas, a indecisão sobre o tom de seus filmes – bem-humorados ou sombrios – fazia com que cada lançamento acumulasse um fracasso atrás do outro, com Flash sendo o último prego no caixão e Aquaman 2 a última pá de terra sobre o túmulo.
Contudo, os filmes paralelos, desconectados de todo o mundo compartilhado que a empresa vinha construindo em seu DCU eram bem-sucedidos e traziam bons resultados para manter a empresa apostando no gênero de super-heróis. The Batman, estrelado por Robert Pattinson, agradou os fãs do morcego e, um filme que foi feito com humildes 55 milhões de dólares, arrecadou milhões de bilheteria e ainda algumas indicações ao Oscar. Estamos falando de Coringa (site oficial), estrelado por Joaquim Phoenix e dirigido por Todd Philips.
Então, fazer uma sequência desse tão espetacular é praticamente uma obrigação para qualquer estúdio que se preze, não é? E ele foi feito. Coringa: Delírio a Dois – “Joker: Folie à Deux” no original – (site oficial) chegou aos cinemas esse ano de 2024 e com algumas boas novidades, como a presença de Lady Gaga como Arlequina. Mas, por que a Lady Gaga e não Margoth Robin, que já estava consolidada no papel?
Porque esse novo filme seria um musical. A dúvida é: Pra quê? Vamos falar sobre Coringa: Delírio a Dois e, se tiver opiniões, deixe um comentário. E atenção: O TEXTO PODE TER SPOILERS!
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Quando os Santos entram Marchando
O filme começa deixando clara a mensagem que ele transmitirá, com uma sequência de animação ao estilo Looney Tunes (também da Warner), inclusive com a música clássica da animação. O Coringa está se preparando para uma grande apresentação, mas está tendo problemas com sua sombra, que teima em não obedecê-lo e chega a roubar suas roupas e maquiagem, entrando no palco e cantando no lugar do verdadeiro Coringa.
Quando ele toma o seu lugar novamente, a polícia chega para castigar o rebelde cantador e espanca o Coringa, e o filme volta a dura realidade, onde Arthur Fleck (Joaquim Phoenix) não passa de uma sombra daquele Coringa que surgiu na televisão e atirou na cabeça do famoso apresentador Murray Franklin (Robert De Niro) e causou uma revolução nas ruas da doente Gotham City. Ele não tem nenhuma graça, nenhuma risada, nenhuma emoção. Anda pelos corredores do Asilo Arkham, carregando seu pinico pela manhã e troca com os guardas uma das suas piadas ruins por um cigarro.

Em breve acontecerá seu julgamento, onde o promotor Harvey Dent (Harry Lawtey) que garantir que Arthur seja condenado e a advogada e psicóloga, Maryanne Stewart (Catherine Keener), está decidida a provar que Arthur e o Coringa são duas pessoas diferentes, uma personalidade que Arthur criou em sua mente para se proteger dos traumas de sua infância em que era abusado pelo seu padastro. Mas Arthur não liga para nada disso.
Até que, um dia, indo esvaziar seu pinico, ele vê na ala de segurança mínima Lee Quinzel (Lady Gaga), que repete o gesto de explodir a cabeça com os dedos. Eles se conhecem nas aulas de música, se apaixonam e criam uma conexão que fará com que Arthur volte a ser aquele Coringa que parte do povo de Gotham anseia em ver livre e anárquico novamente.
É um Musical!!
Quando o filme foi anunciado e a presença de Lady Gaga foi confirmada no elenco, tudo indicava que o longa seria um musical. Ou seja, parte dele seria comunicado através de músicas e números cantados pelos atores, então, fica a dúvida: Por que parte da crítica e dos espectadores estão surpresos com isso? Por que há tantas críticas sobre o filme ser um musical, afinal, ele foi anunciado assim, não foi?
Joker: Folie à Deux é definitivamente um musical e um bom musical. Lady Gaga, como era de se esperar, tanto em suas músicas quanto na atuação da garota que se apaixonou pelo maluco e faz de tudo por ele, talvez até mais convincente no papel da side-kick do Coringa do que a própria Margoth Robin em Esquadrão Suicida. Há uma paixão mais presente no relacionamento Gaga/Phoenix do que entre Leto/Robin.
Claro, são situações, filmes e personagens muito diferentes, mas, particularmente, se eu pudesse escolher uma para ser a Harley oficial do futuro DCU, escolheria Gaga a Robin, sem sombra de dúvidas.
A parte ruim dos números musicais são as canções interpretadas por Phoenix. Não sei se ele é um bom cantor em outras situações, mas como Arthur, com sua voz destruída pela magreza e o tabagismo, é difícil ouvi-lo cantar e principalmente se comparar com a voz de Gaga.
Os momentos de sonho de Arthur, onde ele dança e canta com sua Harley, são muito bonitos. O momento em que ambos aparecem em um palco de um show, cantando ‘To Love Somebody’ dos Bee Gees, só não é melhor porque não é real! Teria sido sensacional ver aquilo acontecendo de verdade, mas, realmente, todas essas cenas superproduzidas e coloridas se passam apenas na mente de Fleck. O mundo ainda é cinzento e triste para ele.
“O Coringa Não Existe”
Sabemos disso desde o primeiro filme: Arthur Fleck não é o Coringa das HQ’s. Não existe aquele Coringa de terno roxo que caiu em um tonel de químicos. Embora a gente não saiba exatamente qual é a origem do Coringa e a história feita para Arthur pudesse ser um “What If” perfeito para explicar seu nascimento, não é esse o caso.
Todd Philips contou uma história com o primeiro longa e com seu enorme sucesso, atingiu diversos públicos que enxergaram em Arthur várias facetas. E algumas delas não foram de agrado do diretor, incluindo adeptos do movimento Red Pill. Talvez a ideia dele era mostrar o quão patético era achar que um cara como Fleck poderia ser admirado por alguém?
Uma cena, um tanto pesada, talvez seja a forma do diretor dizer “Esse cara é um pateta. Não é um sigma/alpha/zeta ou qualquer idiotice que vocês inventaram. Acordem!” E também é o momento em que Arthur percebe que toda a sua criação na sua cabeça daquele grande vencedor, contador de piadas divertidas, dançarino excelente e herói do povo de Gotham. Todas as pessoas admirando ele lá fora não serviram de nada e aconteceu com ele aquela coisa horrível e ninguém fez nada para ajudá-lo. Nem seus fãs e nem o “Coringa”.
A verdade é que o filme segue todo o caminho do primeiro longa, mas buscando desconstruir aquele personagem que foi moldado no primeiro longa. O que desagradou muita gente, que queria ver, talvez, Arthur se consolidando como o da HQ. O que não aconteceu e frustrou muita gente. Tanto dentro quanto fora do filme. Fora pelas notas da crítica. E dentro porque a Harley abandona ele.
Mas, a verdade é que é uma excelente ideia do diretor que simplesmente mostrou que, ao mesmo tempo que não existe um Coringa, existem vários Coringas. Existem “coringas” do lado de fora do Asilo, capazes de explodir um tribunal. Existem “coringas” que vão surgir por causa de traumas e cicatrizes (estou falando de você, Harvey). Existem “coringas” dentro do Asilo Arkham, que “colocaram um sorriso no rosto” após um assassinato a sangue frio. Existem “coringas” que ainda nem nasceram, mas que já estão lá.
Arthur não é o Coringa, mas talvez tenha pavimentado o caminho para ele no futuro. Sinceramente, espero que este longa não gere spin-offs e nem que em algum momento um Batman (seja o de Pattinson ou um futuro Batman do novo DCU de James Gunn) fale que existiu um Arthur Fleck, pois, os dois longas forma um arco legal, com começo, meio e fim. Acho que Delírio a Dois foi um filme “desnecessário”? Sim. O primeiro filme se bastava em si? Com certeza. Mas hoje, vendo os filmes como um conjunto, percebo que o primeiro longa começa “embaixo” e termina “no alto” e o segundo começa “no alto” e termina “embaixo”. Gerando um arco, literalmente.

O filme também mostrou que, assim como na vida real, existem muitos ídolos que são amados por multidões, mas, por um deslize, simplesmente são abandonados por aqueles que antes juravam amá-los e idolatrá-los. Vemos isso recentemente com o candidato a prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, que arrebatou consigo diversos eleitores do ex-presidente, Jair Bolsonaro, pois, de acordo com esses, o próprio Bolsonaro não era “bolsonarista” o suficiente.
Também vemos uma crítica a espetacularização que se faz em cima de assassinos seriais que os torna heróis na visão de algumas pessoas, dado ao espetáculo que é feito em torno desses, tentando a todo custo humanizar e mostrar seus pontos de vista e suas motivações, por mais torpes que sejam. Isso vale para a mídia que glamoriza a violência em telejornais do estilo “pinga sangue” como os Brasil Urgente e Cidade Alerta da vida e para séries de true crime, que buscam chocar sua audiência ao mesmo tempo que mostram o quão “coitadinho” é aquele assassino em série.
Veredito sobre Coringa: Delírio a Dois
O filme é um musical que encanta pelo talento vocal da Lady Gaga e conta uma história coerente, que começou no primeiro filme e terminou agora, gerando não um, mas vários coringas. Arthur nunca foi. Ele simplesmente pavimentou um caminho para um futuro coringa que poderá surgir e causar o terror em Gotham e lutar contra o Batman que já foi criado no primeiro longa. Assista com a mente aberta e esqueça um pouco os críticos de plantão. Coringa: Delírio a Dois é um filme vale a pena de se ver.
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