Aventure no sul do Brasil com essas dicas de Gaucho and the Grassland e se dê bem logo no começo do game
Quando se pensa em um jogo de fazendinha, é fácil imaginar aquele cenário clássico: uma fazenda charmosa no meio do nada, galinhas ciscando pelo quintal, celeiros cheios de ferramentas antigas e talvez até uma égua teimosa pra domar e muito trabalho pela frente, tendo que consertar o celeiro, limpar a área de cultivo e vender o fruto do seu trabalho para manter as coisas crescendo e fluindo.
Aquela rotina que conhecemos bem em jogos como Stardew Valley, o gênero já virou sinônimo de aconchego, tranquilidade e rotinas simples — geralmente com um toque europeu ou norte-americano.
Mas o que acontece quando a fazenda não fica no interior da Inglaterra, num mundo mágico ou de Kentucky, e sim nos pampas do sul do Brasil? É isso que Gaucho and the Grassland (site oficial) propõe: trocar a abóbora pelo chimarrão e mergulhar numa jornada de vida no campo enraizada no folclore brasileiro.
Desenvolvido pela brasileira Epopeia Games, o jogo entrega algo que vai além do plantio e da criação de animais. Aqui, o cotidiano rural se mistura com mitologia nativa, tradições gaúchas e um mundo onde o espiritual e o material se cruzam o tempo todo. Mesmo com limitações técnicas e algumas escolhas simplificadas, Gaucho and the Grassland se destaca por ter alma — e não só por causa dos fantasmas.
Dicas de Gaucho and the Grassland
Nem toda fazenda é igual
Apesar de trazer um cavalo como companheiro, é bom deixar claro desde o início: Gaucho and the Grassland não é um jogo só sobre cavalos. Ao contrário de títulos onde o foco está em treinar, cuidar ou correr com o animal, como em The Sims 4 – Tomando as Rédeas, aqui ele serve mais como transporte e parte do cenário. Alazão, o cavalo do protagonista, é funcional, mas não é desenvolvido como personagem.

A ligação entre jogador e montaria não é profunda, e não há mecânicas de cuidado ou afeto. Isso não tira o charme do jogo — só deixa mais claro que estamos falando mesmo de um jogo de fazenda com elementos de aventura, e não de uma simulação equestre.
Mas se o cavalo não é o protagonista, o que é? A resposta é simples: o retorno ao lar, o resgate da terra e o contato com as raízes. O jogo começa com o personagem voltando à antiga fazenda da família, agora abandonada. A visita ao túmulo do pai morto logo vira uma missão espiritual: o velho, mesmo do além, convoca o jogador para assumir o papel de novo Guardião dos Pampas.
A tarefa? Encontrar os espíritos protetores das regiões da Costa, dos Campos e das Serras, que desapareceram misteriosamente. Sem eles, Boitatá — a serpente de fogo do folclore brasileiro — está solta, causando destruição. Para restaurar o equilíbrio, será preciso ajudar a comunidade local, restaurar a confiança entre os moradores e reativar os antigos faróis sagrados que conectam os dois mundos.
Plantar, colher, construir e… acalmar espíritos
Na prática, o que você faz em Gaucho and the Grassland é muito parecido com o que se espera de qualquer jogo de cultivo e fazenda: coletar recursos, construir estruturas, cuidar dos animais e ir expandindo seu pedaço de terra. Mas o diferencial está no contexto: tudo isso é feito dentro de uma narrativa mística, com forte presença de elementos culturais regionais. É como se Stardew Valley encontrasse o folclore brasileiro — e decidissem tomar um chimarrão juntos.
Logo no início, o jogador aprende a coletar grama, pedra e madeira. Esses materiais servem para fabricar ferramentas e cumprir tarefas básicas. Conforme avança, novas receitas são liberadas, incluindo móveis, decorações e objetos essenciais para determinadas missões. Além de montar sua casa, o jogador pode comprar terrenos extras, onde é possível criar galinhas, vacas e ovelhas. Cada animal oferece recursos específicos, que podem ser usados no comércio com os vizinhos ou para expandir a fazenda.
Mas não basta plantar e colher. Para seguir na história, é preciso conquistar a benevolência dos moradores. Isso se faz ajudando com tarefas variadas, desde cuidar da terra até resolver brigas entre vizinhos. Cada ato de bondade aproxima você do momento de entrar nos labirintos criados por Boitatá, onde será necessário restaurar os faróis espirituais. Só então as árvores mágicas da figueira poderão crescer, reabrindo o caminho para o mundo dos espíritos.
Entre dois mundos
Uma parte essencial da aventura acontece fora da realidade visível. Ao cruzar para o plano espiritual, o jogador encontra os guardiões místicos que protegiam a região — e que agora precisam de ajuda para retornar ao seu posto. Essas entidades, inspiradas em lendas sul-americanas, têm características próprias e representam aspectos do equilíbrio da natureza nos pampas. Recuperar cada uma delas é como reconstruir um pedaço da alma daquele lugar.

Esse elemento mitológico dá peso ao jogo, sem deixar o tom leve e acessível de lado. Tudo acontece num ritmo calmo, com ciclo de dia e noite, paisagens que variam entre campos abertos e áreas mais densas, e desafios que não exigem reflexos apurados, mas sim atenção e empatia.
Cusco, Alazão e o elo com os animais
Mesmo que o jogo não foque no cavalo, os animais têm seu lugar. Desde o início, dois companheiros se juntam ao protagonista: Cusco, o cachorro farejador, e Alazão, o cavalo de montaria. Cusco ajuda encontrando itens escondidos e pode ser comandado para explorar pontos específicos do mapa. Já Alazão serve para cruzar áreas mais rapidamente, além de participar de algumas atividades secundárias como laçar o gado ou competir em corridas leves.
É possível personalizar o visual dos dois, trocando cores e estilos conforme se progride no jogo. No entanto, algumas limitações incomodam. Alazão, por exemplo, não pode ser acariciado — diferente de Cusco — e não há opção de mudar sua sela ou bridão. Pequenos detalhes como esse reforçam que a montaria não foi pensada para ter um papel afetivo no jogo, o que pode decepcionar fãs de títulos com foco no vínculo entre humano e animal.
A escolha estética e suas consequências
O estilo visual de Gaucho and the Grassland é propositalmente cartunesco, pensado para ser acessível e familiar. Isso traz charme, mas também alguns problemas técnicos. O modelo do cavalo, por exemplo, apresenta falhas anatômicas evidentes para quem entende do assunto: uma coluna curva demais, pernas traseiras tortas e uma sela que parece grudada no lombo. Embora isso não afete a jogabilidade, pode causar estranheza.

As animações também são limitadas. Alazão não pula, não anda para trás e tem poucas variações de velocidade. Em compensação, o controle é simples e funcional, e o mapa foi planejado para que essas ausências não travem o progresso. Um incômodo recorrente, porém, é a necessidade de desmontar sempre que se encontra algum item pequeno — o que quebra o ritmo da exploração com frequência.
Mais do que mecânicas, é sobre identidade
Apesar das críticas, o que realmente diferencia Gaucho and the Grassland de outros jogos de vida no campo é o quanto ele abraça sua origem. A ambientação nos pampas não é só uma skin: ela está presente em cada detalhe. A língua, as roupas, os personagens, os costumes. Até o chimarrão, que poderia ser só um item decorativo, vira uma ferramenta social para se aproximar dos moradores.
Isso é raro em jogos do tipo. A maioria das fazendinhas digitais reproduz o mesmo cenário: Estados Unidos ou Europa, clima temperado, ciclos previsíveis. Jogos como Legend of Khiimori começaram a mudar isso, mostrando que há espaço para contar histórias de outras partes do mundo. E o trabalho da Epopeia Games vai exatamente nessa linha — criando um universo novo, mas familiar para quem vive na América do Sul.
Um novo tipo de fazendinha
Gaucho and the Grassland pode não ter o cavalo mais bem modelado dos games, nem as mecânicas mais profundas de amizade ou customização. Mas entrega algo mais importante: um jogo de fazenda com alma própria. Ele convida o jogador a cuidar da terra, mas também da memória, da comunidade e dos laços com o invisível.

É um título que vai agradar quem procura uma experiência tranquila, com foco na construção, no cultivo e na cultura. Os fãs mais exigentes de cavalos talvez sintam falta de um elo mais forte com Alazão, mas quem estiver aberto a algo novo e sincero encontrará aqui uma jornada leve, honesta e cheia de identidade. Uma aventura que transforma a simplicidade da vida no campo em algo mágico — sem precisar sair do Brasil.
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